
IstoÉ Suzane Frutuoso O medo de ficar sem trabalho leva muitas pessoas a deixarem de lado a ética. Isso pode ser ruim no futuro.
Crises econômicas são períodos de tensão. Muitas pessoas têm de se adequar às contenções de despesas das empresas, outros logo entram para a lista dos desempregados e quem consegue manter o emprego não fica menos preocupado. Afinal, ninguém sabe o dia de amanhã. Mas até onde ir para salvar a cadeira? Vale tudo, até agir de forma desonesta? Para 28% dos americanos sim. É o que revela um estudo da consultoria Adecco, com 1.200 pessoas, conduzido pelo instituto de pesquisas Harris Interactive, recém-divulgado.
O mais surpreendente é que entre os jovens, de 18 a 34 anos, esse número chega a 40%. Atitudes como mentir (leia quadro) são consideradas meios de garantir espaço. A princípio, pode até dar certo, diz a psicanalista Léa Michaan, “porém enganam-se poucos por pouco tempo”. Segundo ela, mesmo aqueles que sempre demonstraram um comportamento íntegro podem se desesperar diante do risco de perder o trabalho. “A personalidade humana é dinâmica, muda de acordo com experiências. E crises podem despertar o lado primitivo da sobrevivência”, diz.
Para Ralph Chelotti, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos, é melhor controlar os instintos. “Levam-se anos para construir uma carreira. Uma postura errada pode colocar tudo a perder”, diz. O alto índice de imoralidade na juventude para segurar o emprego seria explicado pela imaturidade. “É uma turma com boa formação acadêmica e cultural, mas que ainda está aprendendo a se comportar no mercado de trabalho”, diz Chelotti.
Os jovens estão batalhando para se firmar na profissão e acabam se excedendo, na opinião da psicóloga Carmem Lúcia Rittner, professora de psicologia organizacional e do trabalho da PUC de São Paulo. “Aliado a isso, estamos diante de uma geração ambiciosa. Eles aprenderam que devem vencer na vida, a qualquer preço”, diz ela. Ambição não é um problema. Deve apenas ser bem dosada e vir acompanhada de ética. É a conduta de Gabriel de Gaetano, 23 anos, consultor de relações com investidores. “Me tornei ambicioso ao perceber que nada viria fácil”, afirma. Mas o rapaz, que já foi vítima de armações em um emprego anterior, deixa claro: “Quero crescer sem pisar na cabeça dos outros.”
É nas empresas incentivadoras da competição que funcionários antiéticos acabam aparecendo mais. E eles não vão dar a mínima para a corporação quando saírem de lá. Uma pesquisa do Instituto Ponemon, especializado em gerenciamento e privacidade, feita em fevereiro, mostrou que seis em cada dez ex-empregados furtam dados quando vão embora. Eles os utilizam em um novo emprego, para abrir o próprio negócio – ou por vingança.
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